top of page
Buscar

Três anos por um único clique

  • Foto do escritor: AlfaFoco Produçoes
    AlfaFoco Produçoes
  • 27 de set.
  • 2 min de leitura


Uma das fotografias mais difíceis da minha vida foi feita a poucos quilômetros da minha casa — e, ao mesmo tempo, foi uma das mais complexas jornadas que já vivi como fotógrafo.


Tudo começou de forma simples. Eu passava quase todos os dias por aquele sapezal e via aquela árvore pequena, solitária, como se estivesse guardando um segredo. Ela se erguia tímida no horizonte, quase implorando para ser fotografada. Mas havia algo mais: eu sonhava em vê-la recortada contra o pôr do sol, como se o próprio astro tivesse nascido apenas para se despedir atrás dela.


O problema é que o sol nunca se punha no ângulo que eu queria. O clique perfeito não aconteceria por acaso — seria preciso calculá-lo.


Foi então que chamei meu amigo Alexandre Loner, também fotógrafo. Juntos, começamos uma espécie de expedição matemática: estudamos a trajetória solar, mapeamos as estações, calculamos ângulos de inclinação e distâncias. Dias viraram semanas, semanas viraram meses. Até que encontramos a resposta: havia apenas um único dia no ano em que o sol se alinhava com aquela árvore do jeito que eu sonhava. Apenas uma chance por ano.


E então veio o grande dia. Eu acordei antes do amanhecer, o coração acelerado, como quem vai para uma batalha. Mas o céu nos traiu: uma neblina densa cobria tudo. A árvore, que na minha mente era um farol, se dissolvia na bruma como um fantasma. Voltei para casa com uma sensação estranha de derrota.


No ano seguinte, tentei novamente. Mas dessa vez a chuva caiu sem piedade. A terra virou lama, o cheiro de mato molhado grudava na roupa, as formigas subiam pelas nossas pernas, e a cada passo os tênis afundavam na areia úmida. Eu e Alexandre ficamos lá, encharcados, esperando o céu se abrir. Mas quando o sol finalmente apareceu, já era tarde: ele se escondia tímido atrás das nuvens, o céu sem cor, sem vida. A foto ficou opaca, sem alma.


Voltamos para casa exaustos, frustrados, quase convencidos de que talvez aquela foto nunca fosse acontecer.


Mas eu sou teimoso. Esperei mais um ano.


E então, no terceiro ano, tudo parecia conspirar a favor — até as nuvens aparecerem de novo. O céu ficou cinza, o vento gelado batia no rosto, e cada minuto que passava parecia me dizer para desistir. Mas dessa vez eu não iria embora. Esperei.


E quando o sol finalmente rasgou as nuvens e começou a se pôr, o mundo parou. O céu se acendeu num tom alaranjado que parecia incendiar o horizonte. Manchas de vermelho se espalharam, pintando o cenário como um quadro de Turner. O capim-sapé ao meu redor balançava suave, recortando-se em silhuetas finas, como se a natureza inteira estivesse posando para mim.


Ali estava meu amigo Alexandre, parado exatamente no ponto que havíamos planejado durante três longos anos, sua silhueta perfeitamente alinhada com a árvore.


Clique.


Foi apenas um disparo, mas foi o suficiente para transformar três anos de frustração, lama, chuva, cálculos e espera em um instante eterno.


Não é apenas uma fotografia — é a história da minha persistência, da minha amizade, da minha luta contra o tempo e a natureza. Três anos para um único clique.


E valeu cada segundo.



O Homem e a Arvore Por : Gabriel Carlos ll
O Homem e a Arvore Por : Gabriel Carlos ll



Foto anterior
Foto anterior

 
 
 

Comentários


WhatsApp
bottom of page